20.9.05

AS PRÁTICAS EM E.I.C.

As Práticas do Curso de Educação e Intervenção Comunitária constituem um conjunto de actividades, de natureza prática, a realizar em Comunidades, Instituições/Projectos. A actividade da Prática é desenvolvida com as pessoas e em articulação com as associações, organizações e instituições locais e extra-locais. Ao longo do ano lectivo, e através do conjunto de tarefas inerentes ao desenvolvimento desta componente do curso, os estudantes do 3º ano do Curso de Educação e Intervenção Comunitária da Escola Superior de Educação da Universidade do Algarve integram-se em comunidades, Associações/Projectos e realizam, num primeiro momento um trabalho de Caracterização. A partir dessa caracterização onde diagnosticaram as situações problemáticas, é delineado um Projecto de Acção que corporize um conjunto de actividades que envolva alunos e alunas e demais pessoas da Comunidade, Instituição ou Projecto. Os princípios estruturantes da Prática assentam na perspectiva de Educação Comunitária de Paulo Freire. Esta perspectiva preconiza uma participação activa da população com que se trabalha tendo em vista a sua conscientização e a melhoria da sua qualidade de vida, através da procura conjunta de estratégias de acção que potenciem as motivações e interesses da população. As Práticas, ao proporcionarem o contacto com experiências e contextos muito diversificados, constitui um espaço privilegiado para alunos e alunas ensaiarem uma experiência pré-profissional, na medida em que, ao agirem, no sentido da educação comunitária, utilizam teorias relativas à educação social e pedagogia social, para realizar acções no âmbito da educação de jovens e adultos, animação sócio-cultural, animação sócio-educativa. Neste processo de formação, alunos e alunas são parte fundamental na medida em que assumem um papel determinante na escolha dos espaços de prática, de acordo com as suas motivações, preferências, interesses, que se centram, fundamentalmente, em duas dimensões; uma dimensão refere-se ao desenvolvimento humano e à melhoria do bem estar das pessoas, através da realização de acções de formação/informação, a outra dimensão refere-se à intervenção social e comunitária realizada a partir do trabalho junto de minorias étnicas e grupos sociais desfavorecidos no sentido de ajudar a incrementar relações mais igualitárias na sociedade. Com a realização das Práticas pretende-se que alunos e alunas sejam capazes de enquadrar o seu trabalho de “intervenção social e comunitário” nos marcos teóricos que orientam a sua formação inicial no sentido de os/as comprometer com paradigmas de intervenção mais reflexivos e mais colectivistas (Payne, 2002), mais radicais (Martin, 1987) centrados em torno da mudança e do desenvolvimento. É uma intervenção perspectivada para a consciencialização de pessoas e grupos sociais no sentido de aprenderem a assumir um papel mais dinâmico e participativo nos processos que visam a mudança social. É agir em solidariedade com aquelas pessoas que têm menos poder, ajudando-as a analisar a sua situação e a alcançar mais poder (Martin, 1987).
Face ao exposto, o programa das Práticas procura ser coerente com o perfil de profissional que o Curso de Educação e Intervenção Comunitária pretende formar. Isto implica que no seu desenvolvimento se considerem os seguintes aspectos:
1. A amplitude e a diversidade dos âmbitos de intervenção do Educador/Animador Comunitário exigem a formação de profissionais polivalentes, aptos a trabalhar com adultos de diferentes grupos sociais em contextos diversificados. Tendo em consideração este aspecto, procuramos diversificar os locais onde as Práticas se realizam e fomentar momentos de comunicação, reflexão e troca de experiências entre os/as formandos/as, no sentido de ajudar a enriquecer o percurso formativo individual através do contacto com o trabalho realizado pelos outros/as colegas.
2. Frequentemente, o Educador/Animador Comunitário tem que trabalhar em equipas multidisciplinares. Por esta razão, paralelamente ao domínio de conhecimentos teóricos, de metodologias e de técnicas necessárias ao desempenho desta actividade, o profissional, deverá ter, na sua formação, preparação na área do trabalho de grupo. Este aspecto justifica o facto de se privilegiar a constituição de grupos para o desenvolvimento da componente prática deste curso.
3. No âmbito da Educação e Intervenção Comunitária é frequente a dificuldade de gerir a escassez de recursos, identificar as necessidades reais das populações e avaliar os projectos, etc. Este conjunto de aspectos explica o estímulo que gradualmente deve ser dado aos estudantes, futuros Educadores e Interventores Comunitários, na construção da sua autonomia e no pôr em prática as suas iniciativas.
Tendo em consideração os pressupostos referidos, pretende-se que os/as alunos/as evoluam do mais simples para o mais complexo e do mais genérico para o mais específico, no sentido de realizar os seguintes objectivos:

-Conhecer a realidade profissional do Educador/Animador Comunitário nos diferentes âmbitos de intervenção.
-Compreender a especificidade sócio-cultural de cada comunidade e da comunidade envolvente.
-Fomentar o envolvimento e a participação activa da população alvo.
-Aplicar os conhecimentos e técnicas aprendidas ao longo do curso.
-Desenvolver competências pessoais e profissionais.
-Analisar o meio sócio-cultural, inerente às Práticas, utilizando metodologias participativas adequadas.
-Caracterizar a comunidade, Instituição, Projecto onde a Prática se realiza.
-Estabelecer relações privilegiadas com a população alvo.
-Estabelecer contactos com associações, organizações e instituições (formais e não formais).
-Conceber e elaborar um anteprojecto de intervenção sócio-educativa (não formal com jovens e pessoas adultas).
-Conhecer a realidade profissional do Educador Comunitário nos diferentes âmbitos de intervenção.
-Analisar, numa perspectiva crítica, as práticas realizadas, com o objectivo de melhorar a inserção e o futuro desenvolvimento profissional.
-Aplicar e desenvolver um projecto de educação comunitária no contexto das Práticas.
-Estimular o envolvimento e a participação constantes da população alvo.
-Desenvolver competências de reflexão individual e de grupo sobre o trabalho realizado.
-Acompanhar e avaliar o projecto.

Para a consecução dos objectivos atrás referenciados, os/as alunos/as constituem-se, voluntariamente, no início do ano lectivo, em grupos de trabalho, que são supervisionados por um/a professor/a da Prática e por um/a supervisor/a da Instituição/Associação/Projecto que realizam tarefas de supervisão, acompanhamento e avaliação dos alunos. O desenvolvimento deste Programa pressupõe a realização de tarefas previamente definidas no sentido de permitir uma progressiva integração na comunidade; a utilização de metodologias participativas adequadas a cada situação justificando-as (meios utilizados e adaptação e aplicação de instrumentos de recolha de dados mais adequados a cada caso); o registo escrito, de preferência utilizando o diário de campo, por cada um dos elementos do grupo, de cada uma das sessões semanais da prática no qual se reflecte sobre a actividade desenvolvida bem como sobre as representações pessoais no que diz respeito aos aspectos relacionais, sociais, culturais, organizacionais e institucionais da realidade em que se trabalha; elaborar a versão final do Projecto de Intervenção; realizar as actividades decorrentes do Projecto, acompanhar e avaliar o Projecto; auto-avaliar o trabalho desenvolvido; elaborar em grupo um poster para apresentar na penúltima semana de aulas. No final do processo os/as alunos/as redigem em grupo o relatório final da Prática, que inclua uma síntese descritiva das actividades realizadas por cada um dos alunos, objectivos atingidos, estratégias, recursos, obstáculos, uma avaliação diagnostica (avaliação do contexto: identificação das necessidades e potencialidades tendo em vista o projecto desenvolvido); avaliação do processo (consideração das várias etapas do projecto e do trabalho desenvolvido); avaliação dos resultados (análise de todos os momentos de avaliação realizada ao longo do projecto); reflexão individual sobre as Práticas tendo em conta:1- A dimensão pessoal (conforto, desconforto, motivação, desmotivação, segurança, insegurança), em que medida a actividade desenvolvida respondeu adequadamente às suas necessidades educativas, a que atribuiu maior e/ou menor significado, o que gostou mais e gostou menos, 2- Relação professor/a-aluno/a, aluno/a-aluno/a, tutor/a-aluno/a, relação com outros elementos da Instituição, colaboração entre colegas, participação nas actividades em grupo, partilha de saberes; 3- Utilização de novas experiências e novas metodologias.